19.10.19

no século XVII


De Alberto Manguel no seu livro UMA HISTÓRIA DA CURIOSIDADE (tradução portuguesa, ed. Tinta da China, Lisboa, 2015):

Só muito mais tarde descobri que o questionamento podia ser outra coisa, uma espécie de emoção da demanda, a promessa de algo que se forma enquanto é formulado, uma progressão de perguntas que se multiplicam numa troca mútua entre duas pessoas e que não exigem conclusão.
(...)
Para uma criança, elas são tão essenciais à mente como o movimento o é ao corpo físico. No século XVII, Jean-Jacques Rousseau defendia que a escola tinha de ser um espaço onde a imaginação e a reflexão tivessem rédea livre, sem nenhum propósito prático óbvio nem objectivo utilitário. «O homem civil nasce, vive e morre na escravatura», escreveu. «Ao nascer, cosem-no em mantas; ao morrer, é pregado a um caixão; porquanto mantenha a figura humana, é acorrentado pelas nossas instituições.»
Não é preparando as nossas crianças para um qualquer comércio que a sociedade requeira, insistia Rousseau, que elas se tornam eficientes nas suas tarefas. Antes de serem capazes de criar algo verdadeiramente valioso, as crianças têm de ser capazes de imaginar sem restrições.