13.5.16

geometria de percursos... (II)


...no caderno.

"Trouxe caneta preta e lápis de cera para desenhar – em vez de fotografar – mas nem lhes peguei. As minhas notas de viagem são quase sempre escritas. Cores, texturas, cheiros, detalhes, ficam registados na memória com intensidade! As imagens (mapas, desenhos, fotos) são fragmentos activadores. As palavras também e não captam nem transmitem tudo. Tentam expressar o que é graficamente abstracto? Não sei. Não interessa. O registo, seja qual for o modo ou suporte, é apenas registo pessoal. Não se substitui à experiência e muito menos aos lugares. É mediador: para a própria pessoa que regista ou para outros eventuais intervenientes.

Enquanto arquitecta, cada vez mais confirmo que o sentido da Arquitectura são as vivências que os habitantes/ocupantes nelas estabelecem. O fim ou objectivo de criar espaços e edifícios não pode ser um portfolio de autor nem oportunidade de trabalho para empresas construtoras. Isso são etapas. A essência e valor da Arquitectura é a vivência validada por cada habitante, interveniente.

Vem este tema a que propósito?

Um alerta a quem gere e decide sobre o Bem Público: espaços e equipamentos culturais, sociais... ... ... só servem o território se houver programação, manutenção, ocupação, continuidade, entrega afectiva dos cidadãos. De outro modo, tornam-se museus obsoletos compondo um espólio obsoleto e degradado.
A cidade (ou vila, aldeia) é um órgão vivo cujo bom funcionamento depende da rede de ligações activas estabelecidas a diversos níveis.
Fácil? Não é. Vital? Sim. Por isso exige uma entrega empenhada por parte de todos.
Infelizmente, existem demasiados “divórcios” entre agentes políticos, agentes culturais, agentes educadores, agentes utentes, agentes gestores, agentes fiscalizadores, agentes ausentes, agentes destruidores... agentes.

E assim estagnaremos como meros sobreviventes."


(07.05.2016)