2.1.15
Imortalidade
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Quando era pequeno, o irmão que se prepara agora para visitar, contou-lhe um dia que a maioria das árvores muito grandes têm por vezes centenas de anos. Estavam os dois debaixo de uma azinheira. Salvador lembra-se de ter ficado muito calado. Olhou o tronco com atenção, levantou-se lentamente para lhe tocar. Era um dia de calor. Ouviam-se bichos pequeninos a mexer ao pé deles, enroscados nas folhas emaranhadas na terra. Só nesse momento compreendeu que aquela árvore existia há muito tempo, muito muito antes dele, e continuaria a viver, assim sendo, muito muito para além dele. Nunca esqueceu essa descoberta de uma imortalidade palpável.
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A CASA QUIETA por RODRIGO GUEDES DE CARVALHO - Editora Dom Quixote, 2005, p179