19.8.14

'Dia Mundial da Fotografia'


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Deus! Que surpresas tens para mim!
Não tinha nem pousado este meu caderninho quando Irmã Clara perguntou se eu queria ir com Stélio buscar os cocos que havia encomendado. Sim, claro… Vou só pousar o caderno…



Fomos à Missão de Mongué, a 15km de Maxixe. Para lá de Chicuque e Nhabanda. É uma antiga missão que está agora abandonada. Um lugar fantástico voltado para a baía, numa zona onde esta entra já bem terra a dentro.


Aí estava uma mamã que nos pediu que a acompanhássemos até aos cocos. Lá a seguimos, pelo mato, no seu passo ágil e confiantemente apressado (apesar da sua idade). Por vezes eu parava para fotografar e depois dava uma corridinha. Tão pouco falam as fotografias daquilo que vi!!



O caminho era subido e de repente estamos num miradouro sobre a baía… Que lugar! Só consigo pensar Obrigada! Este foi um daqueles instantes de emoção forte para o olhar, dos que nos deixam sem fôlego! A baía a beijar a terra! Os coqueiros inclinados sobre a água, dançados pelo vento! E as palhotas… ali, apenas, nesse silêncio isolado, paraíso de paz…


Sinto-me honrada por poder gozar esse momento, esse lugar que os olhos bebem admirados. A conversa ‘dialectada’ que não percebo: entre a mamã, Stélio, o rapaz apanhador de cocos… o pequenito gato que nos roça os pés. O contar de cocos, a ‘discussão’ amiga do preço, e por fim o ‘papá’ que é o dono dos cocos. Saúda-nos num português correctíssimo, que denuncia ainda o convívio com os portugueses de outros tempos. O seu pedido de desculpa por não conseguir os 200 cocos pretendidos… Obrigada… Adeus… Deus convosco no regresso… O aperto de mãos moçambicano, sempre respeitoso.


Descemos.
Já escureceu. Escutam-se grilos ou cigarras.
O que quero é deixar pousar em mim todo este momento, este privilégio…



Sinto ainda nos pés o calor apressado da subida, o leve latejar quente do sangue sob a pele. Tenho areia e pó nas sandálias - como presença desta terra acolhedora – mas não as descalço ainda…

Tão simples os paraísos da vida

E tanto, que as palavras também não sabem dizer…
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Diário, 27 Set 2005