Comprei uma caixa grande para nela tentar reunir os meus muitos e variados cadernos de grafias, mas nestes processos de organização é difícil resistir à leitura, à viagem pelo passado.
Admito que significativa parte deste "diálogo" só tem valor para mim, no entanto, alguns apontamentos são mais abrangentes.
Por exemplo, do dia 30 de Julho de 2002:
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Estamos sempre a chatear-nos com as crianças e na verdade estamos sempre a condicionar a energia e liberdade que lhes é tão característica.
Não corras dentro de casa.
Não jogues aqui.
Cuidado que partes isso.
Não desarrumes as coisas.
Cuidado com as escadas.
Não te chegues à varanda.
Na verdade talvez desejássemos "amarrá-los". Mas não, precisamos de os libertar. Para tal precisam de espaço, precisam de mexer, "bisbilhotar" para aprender e conhecer.
Acho que os espaços que habitamos são um real condicionamento para as crianças, não são criados a pensar nelas.
O que fazer?
Projectar espaços amplos (exteriores?) onde possam jogar e libertar energias, deixando reservada a casa, a escola, a biblioteca, para as actividades mentais e actividades básicas (higiene, alimentação, repouso...)?
Será que projectamos espaços que enclausuram "a criança que há em todos nós"? Será que concentramos as nossas vidas num domínio mental, desligado da experiência corpórea e aprendizagem sensorial?
Somos humanos engaiolados?
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