Citando José Régio no seu ensaio «Em Torno da Expressão Artística», da série Cadernos Culturais publicado por Editorial Inquérito em 1940 (2ª edição).
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Ora com esse poder de aprofundar a natureza, a vida, a humanidade, a realidade, e se elevar sobre elas; com esse dom de entrar à intimidade dos seres ou coisas e lhes sobrepairar; com essa regalia (ilusória ou não) de simultâneos mergulho e voo; com o seu segredo, em suma, dos jogos de sombra e luz de tudo - se relacionam a moralidade intrínseca da arte e o complexo prazer que nos dá, a serenidade a que, a despeito de tudo, nos convida a certo halo de beleza final (tão pouco definível) com que alarga tudo o que toca...
Se inútil é isto que a arte oferece aos homens, se a forma de conhecimento e contemplação que a arte implica ou propaga é inútil, - legítimo é falar da inutilidade da arte: porque exigir-lhe outra moralidade; pedir-lhe manifestações de qualquer beleza que não passe de concepção demasiado particular; buscar nela um prazer, ou prazeres, que não pode fornecer; esperar dela uma tranquilidade fisiológica ou intelectual demasiado superficial e humana a par da serenidade que insinua aos que a amam, - é colocar-se perante a arte na mesma pobre atitude dos que, impotentes a compreenderem-na, impotentemente a procuram torcer a fins que são deles... não dela.
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