« Como o árabe se escreve com a mão direita e da direita para a esquerda, é preciso cuidado para a mão não passar sobre a linha escrita de fresco. Na realidade, a mão, tal uma bailarina, deve dançar levemente sobre o pergaminho, e não pesar como um camponês com a sua charrua. A caligrafia tem horror ao vazio. A brancura da página atrai-a, como a depressão atmosférica atrai os ventos e faz levantar a tempestade. Uma tempestade de sinais que vêm em nuvens pousar sobre a página, como aves de tinta num campo de neve.
(...) O cinzel do escultor liberta o jovem, o atleta ou o cavalo do bloco de mármore. Da mesma forma, os sinais são todos prisioneiros da tinta e do tinteiro. O cálamo liberta-os e deixa-os sobre a página. A caligrafia é libertação. »
« O amor verdadeiro é o prazer que nos dá o prazer do outro, a alegria que nasce em mim do espectáculo da sua alegria, a felicidade que sinto por sabê-lo feliz. Prazer do prazer, alegria da alegria, felicidade da felicidade, é isto o amor, nada mais. »
« - É pena não teres mais tempo - concluí eu. Então, voltou ainda às suas perguntas desconcertantes. - O que é o tempo? - perguntou ele. - Bem, o tempo... é este espaço em que estamos aqui, esta hora... - É estarmos um com o outro, queres tu dizer?! - É isso! - acrescentei eu. - É estarmos presentes. - Então o tempo é a presença... E eu tenho urgência de estar presente com o meu amigo! »
Jorge Cabral dos Santos, "Encontrei o Principezinho - Carta a Saint Exupéry"
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« Os preparativos da nossa partida agiram sobre mim como uma cura de juventude e força. O poeta disse-o: a água que estagna imóvel e sem vida torna-se salobra e lamacenta. Ao contrário, a água viva e cantante permanece pura e límpida. Assim, a alma do homem sedentário é um vaso onde fermentam agravos indefinidamente remoídos. Da do viajante jorram em torrente ideias novas e acções imprevistas. »