" ...esticava os braços agarrando essa inesperada bolha de perfume liberta da terra, enquanto outras vaporizavam já o ar do seu voo! Começava a sentir-se estranha... parecia que as asas sossegavam em ausência de gravidade.
Flutuava?!
Pouco a pouco deixava as sensações, dando de novo espaço aos pensamentos:
que se passara afinal? Teria sido o peso da sua sesta a acordar a terra? Fluxos de sono abrindo um túnel de aromas borbulhosos? ...
Releio Kahlil Gibran reencontro Al-Mustafá, o Profeta
releio sem pressa e, no sabor das últimas semanas, detenho-me aqui:
«Da Conversa
Então um erudito pediu-lhe: Fala-nos da conversa. E ele respondeu: Vós falais quando deixais de estar em paz com os vossos pensamentos. E quando não podeis continuar a residir na solidão do vosso coração viveis nos vossos lábios e a voz é diversão e passatempo. E, em muitas das vossas conversas, o pensamento é meio assassinado. Pois o pensamento é uma ave de espaços que, metida numa gaiola, pode abrir as asas mas não consegue voar. Há entre vós aqueles que procuram a tagarelice com medo de estarem sozinhos. Pois o silêncio da solidão revela aos seus olhos as suas almas nuas e eles prefeririam fugir. E há aqueles que falam e, sem conhecimento ou premeditação, descobrem uma verdade que por si sós não compreendem. E há aqueles que têm a verdade em si mesmos, mas não a transmitem por palavras. No seio desses, a alma habita num silêncio rítmico. Quando à beira do caminho ou no mercado, vos cruzais com o vosso amigo, que a alma que existe em vós faça mover os vossos lábios e conduza a vossa língua: que a voz que existe dentro da vossa voz fale ao ouvido do seu ouvido, pois a sua alma conservará a verdade do vosso coração, como se conserva o gosto do vinho, quando já esquecemos a sua cor e a taça por onde o bebemos. »
Deixem passar o que há por contar: A voz da cigarra que nunca cantou; A luz do luar que nunca foi dia; O sol que se pôs, de manhã, devagar. Era uma Vez uma grande magia. Beijava de paz tantas dores sentidas; Brilhava, suave, asa de ave contente; Voava ao sabor das horas perdidas.
Voa magia, e vai na miragem do Amor Voa, magia, e volta das voltas sem dor Voa, magia, e veste os teus sonhos de cor Voa, magia, e vai na viagem do Amor.
Não tinha varinha mas tinha um condão: Da vida levar ao cais dos segredos. Tocava a varinha na noite dos medos E o céu acordava na palma da mão.
Voa magia, e vai na miragem do Amor Voa, magia, e volta das voltas sem dor Voa, magia, e veste os teus sonhos de cor Voa, magia, e vai na viagem do Amor.
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Pirilampo Mágico vozes de Maria João, Mariza e Teresa Salgueiro