4.1.09

"BARBA AZUL, PAPÃO e C.IA"

de Eric Jourdan e Paula Rego

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Cada um a sua fantasia seguir:
Eis o segredo da vida sem fingir,
Pois o resto, sem ela, a nada nos faz ir!
Que se desprezem poder, riquezas, virtude;
A felicidade está em saber sorrir
E a alegria é o maior bem da juventude...

..

(O Príncipe Ligeiro)


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A criança que de manhã, ao levantar,
Desgrenhada, nariz alçado, ainda a sonhar
Vai escovar os dentes,
E obediente bochechar -
Que acha que vê realmente?

Barba Azul no corredor,
Um crocodilo na banheira, espreitador;
Da chaleira e da cafeteira
Saem guerreiros em fileira
Cuja história só a noite sabe de cor...

O sonho vivo é encolhido
Se lhes dirigirem voz forte e tom subido;
Fizeram o pacto, com ele selado,
Da bela adormecida no bosque calado
E todo o dia ele finge ter morrido.

Mas mal regressa a sombra
Sob as suas pálpebras, na penumbra
Em fantásticos palácios, longe de abrigo
Eles vencem o maior perigo.
E até o medo é heróico, mesmo na tumba.

O sangue da sombra é a sua cobertura
E no belo dragão que morre e não dura,
É a doçura que lhes é revelada...
Depois a noite assim é murmurada
Com o mesmo rumor que no seu coração perdura.

(Deixem-nos em Paz!)

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